Analista de desempenho, Bebeto Sauthier coletou vídeos de Petersen, último cobrador alemão, e repassou os dados a Rogério Maia, treinador de goleiros .
Com as mãos, Weverton parou a cobrança de Nils Petersen e abriu caminho para a conquista do inédito ouro olímpico, que foi confirmado por Neymar na penalidade seguinte (assista aos melhores momentos da final no vídeo acima). O gesto técnico revela a facilidade que o goleiro tem para pegar pênaltis, mas não mostra que a decisão de pular no canto esquerdo não foi fruto de um simples acaso, e sim de um trabalho coletivo que envolveu a comissão técnica da seleção olímpica e contou com a participação de Taffarel, treinador de goleiros da principal.
Em entrevista ao Sportv no dia seguinte ao jogo, o goleiro, convocado nesta segunda-feira para a seleção principal, explicou que a decisão de pular no canto esquerdo se deveu a um estudo feito pela comissão técnica e repassado a ele.
– Tinha os dados do Petersen, eram oito pênaltis, quatro em um quanto e quatro no outro. Mas em uma análise mais detalhada, viram que quando ele estava mais tenso, concentrado, batia forte do canto esquerdo, e quando o jogo estava tranquilo, mudava. Foi essa a leitura que eu fiz (assista à entrevista no vídeo abaixo).
Analista de desempenho da seleção olímpica, Bebeto Sauthier costuma coletar todos os pênaltis cobrados pelos adversários usando vários sites e plataformas. Ele colhe as imagens, edita e manda via Whatsapp as informações para os goleiros.
– É um trabalho em conjunto com o Maia, que é o nosso treinador de goleiros, e fazemos sempre. Não é só contra a Alemanha, ou contra Honduras, mas em todos os jogos, para aumentar. Tudo o que a gente puder fazer para aumentar a probabilidade de acertos e minimizar a de erros em campo a gente faz.
Entre os jogadores alemães, era justamente Petersen quem tinha o maior número de cobranças analisada. Rogério Maia, o treinador de goleiros que “cantou a pedra” para o camisa 1 brasileiro após o fim da prorrogação em uma conversa isolada, conta detalhes sobre a análise.
– A gente sempre busca estudar bastante para identificar tendências. Mas quando vimos que o número de cobranças em cada canto se equivalia, eu vi que precisava falar com um jogador de linha. Procurei o Odair, auxiliar-técnico, que já foi jogador e batedor de pênalti. Contra Fiji, quando a Alemanha goleou por 10 a 0, ele bateu no outro canto, mas a gente percebeu que quando o jogo estava mais disputado, ele sempre batia no canto direito dele, e o Odair foi muito importante nessa discussão.
Odair confirma a conversa e dá mais detalhes de como foi o papo com Maia.
– Ele tentou conversar comigo desde a sexta-feira para mostrar os vídeos, mas estávamos em uma correria imensa. Só consegui ver no aquecimento, quando ele me chamou de novo. Analisamos os movimentos, a mecânica de chute dele, e concluímos que a batida chapada para o canto direito saía mais firme, mais forte do que a cruzada, no esquerdo.
Outra pessoa citada por Maia é Taffarel, treinador de goleiros da Seleção principal, que esteve em contato com a comissão técnica da equipe olímpica durante todo o torneio.
– O Taffarel era pegador de pênalti, e é um cara acostumado a ganhar títulos na Seleção. A participação dele foi muito importante. Antes da decisão, mostramos frases dele. O que me marcou muito foi ele falando para o Weverton não levar a história de vida para o campo e focar apenas no jogo, viver o jogo.
COBRADORES SUBSTITUÍDOS
Dos cobradores de pênaltis mais estudados pela comissão técnica brasileira, apenas Petersen e Brandt, o camisa 11, participaram da disputa decisiva. Lars Bender, camisa 8 e um dos jogadores mais experientes do time, foi substituído durante a partida. Meyer, autor do gol alemão no tempo normal, sentiu muitas cãibras e não foi relacionado para a primeira série de cinco. Ainda assim, Weverton acertou o canto em quatro das cinco batidas.
– O Weverton teve muito interesse na análise dos pênaltis desde o início, e o mérito é total dele. No fim, é sempre o goleiro quem toma a decisão – explica Bebeto, ressaltando que faz também um estudo do posicionamento do goleiro adversário e repassa aos batedores brasileiros.
Não é a primeira vez que a seleção brasileira disputa os pênaltis sob as análises da dupla Maia-Bebeto. Em 2015, eles estavam no Mundial Sub-20 e o Brasil venceu dois duelos desta maneira, contra Uruguai e Portugal, após empate sem gols.
Jean, goleiro brasileiro na época, não chegou a defender pênaltis contra o Uruguai, mas contra os portugueses encaixou uma cobrança de Raphael Guzzo no meio do gol. Estava avisado que o meia português batia sempre ali e ficou parado, esperando a cavadinha.
Maia também participou do Mundial Sub-20 de 2011, do qual o Brasil saiu campeão após derrotar a Espanha também nos pênaltis, com grande participação do goleiro Gabriel. E conta que, quando chega o momento da disputa, se tiver as informações, ele se sente confiante.
– Essas vitórias nos ajudam a sempre pensar positivo. Claro que temos derrotas também, mas, nos momentos importantes, vencemos.